Uma das partes que mais me emocionou no livro, Depois do parto, a dor, é o final dele ao qual a autora Brooke Shields coloca em algumas palavras os diferentes sentimentos que passou desde a tentativa de engravidar e a luta com a depressão. E com vcs queridas mamães e familiares, quero dividir essas palavras.
"No momento em que escrevo isso, passou-se um ano desde que ocorreu o nascimento traumático de minha filha e que começou a minha luta com a depressão pós-parto e mais de três anos desde que dei os passos iniciais para ter um bebê. Minha jornada particular para a maternidade não poderia ser mais diferente do que eu esperava. A partir do dia em que adentrei o consultório de minha médica especialista em reprodução humana foi como se tivesse mergulhado num estado alterado de existência. Quando paro para lembrar, não estou bem certa quem estava vivendo minha vida. Eu estava seguindo a maré, mas não sentia nunca que era eu mesma. Se tivesse parado para calcular as chances de engravidar, poderia nunca ter tido a força para continuar. Tudo o que eu podeia ver era a linha de chegada. Por fim, voltei a este mundo, e, embora esteja diferente, também estou mais forte e bem mais feliz do que sonhei um dia ser. Pela primeira vez em um bom tempo, sinto-me como se estivesse de volta ao meu corpo e completamente envolvida com a minha vida.
Passar pela depressão pós-parto foi o desafio mais assustador e devastador que já encarei até hoje. Ter um aborto foi de muitas maneiras opressivo, mas não mexeu com a minha cabeça, e eu tinha razões para continuar. Perder meu amigo David para o suicídio foi chocante e mudou minha vida para sempre, mas eu o carrego comigo, assim como o meu pai. Senti uma tristeza e um sentimento de perda profundos, mas nunca antes tive de lidar com um medo tão agudo e com tamanha vontade de morrer. Viver esses longos meses depois de dar à luz me proporcionou uma apreciação maior de minha filha do que se a experiência tivesse sido mais fácil. Além disso, como a depressão me arrasou, fui forçada a me analisar com mais profundidade.
No passado, nunca tive problemas em fazer algo uma vez que me decidia a fazer. Então não me ocorreu que eu não seria capaz de cuidar de uma recém-nascida e meu eu pós-parto. Eu achava que meu problema era engravidar, mas, uma vez que superasse isso, o resto seria moleza. A depressão pós-parto alterou minha perspectiva. Era como se eu tivesse sofrido um terrível e estranho acidente de carro, no qual voei de cabeça através do para-brisa pelo qual eu tinha enxergado minha vida nos últimos 37 anos. De repente, não apenas eu não podia fazer a coisa que tinha planejado fazer (criar um filho), como não podia lidar com qualquer aspecto disso. A parte assustadora era que eu nem queria tentar melhorar a situação. Estava infeliz demais para acreditar que um dia iria melhorar.
A parte infeliz disso é que nunca fui informada seriamente sobre o fato de que depressão pós-parto pode ocorrer. Ela é bem real e devastou de maneira silenciosa a vida de muitas pessoas. Se eu tivesse sido mais informada, talvez não tivesse me considerado uma candidata, mas ao menos poderia munir-me de algumas informações importantes. Sou incrivelmente grata por ter reconhecido desde cedo que algo estava errado e por ter sido capaz de encontrar ajuda. Odeio pensar nas mulheres que suportaram esse tipo de depressão por longos períodos de tempo sem saber que havia auxílio disponível.
Passei por uma garnde mudança em meu amor e na valorização de minha filha. Em vez de me sentir entorpecida em relação a ela ou de imaginá-la sendo machucada de alguma forma, agora anseio por ela e quero protege-la com minha vida. Algumas vezes sinto como se literalmente não pudesse ter o suficiente dela e que a inalaria em meus pulmões e a injetaria em minhas veias se pudesse. Meses antes, quando eu me lamentava prostrada na cama, nunca acreditaria que poderia me sentir desse jeito.
Quando Rowan estende a mão para mim, ou quando corre pela sala para se aninhar em meu peito, sei que eu tive êxito e minha vida parece completa. Nesse sentido, a maternidade é ao mesmo tempo egoísta e abnegada. Rowan me dá propósito e faz com que eu me sinta mais especial do que nunca, e, ao mesmo tempo, eu morreria por ela. Quando me lembro dos pensamentos sombrios que tive quando estava realmente deprimida e querendo acabar com a própria vida, e agora eu a daria se fosse em benefício de minha filha.
Embora ser mãe não seja a única coisa que sou, isso é o que melhor me define mais. Percebo que posso ser mãe e ter uma carreira. Acho que temia perder a mim mesma quando tive a minha filha, e o pós-parto apenas tornou isso mais difícil. Agora vejo que, com isso, tenho ainda mais de mim mesma. A vida nunca se torna tediosa, e, embora eu fique bem cansada a maior parte do tempo, Rowan nunca para de me inspirar. Quer ela esteja me fazendo querer ser uma mãe melhor, uma esposa mais forte ou uma atriz mais honesta, eu a mantenho em meus pensamentos. Agora me sinto fortalecida pela experiência."